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A Harlem Goove Band no American Legion Post 398, com Seleno Clark no fundo, à esquerda |
Se você estiver em Nova York num domingo à noite e quiser viver uma experiência autêntica, programe-se para ouvir jazz no Harlem. A dica não é de nenhum clube famoso, nem de nenhum passeio caríssimo. Creia: é de um programa baratinho, com música muito boa e diversão garantida. Anote aí: Harlem Groove Band no American Legion Post 398, começando às 19h em ponto.
Essa é uma das jam sessions mais tradicionais da cidade, liderada há 17 anos pelo músico Seleno Clarke. No órgão Hammond B3 que denuncia o seu tempo de carreira, Seleno comanda um grupo tão multicultural quanto o próprio jazz: o irlandês Sean Cameron na bateria, o sul-coreano Timmy Ling na guitarra e o hispanoamericano Peter Valera no sax. Nas quatro horas de jazz que rolam até as 23h, passam pelo palco muitos outros músicos, que vão entrando e saindo com a naturalidade de quem senta numa roda para bate papo. Nas duas vezes em que estive lá, saí babando. A música é de excelente qualidade e tocada por puro amor ao jazz.
Duas palhinhas:
O show é gratuito, mas uma contribuição para a banda é mais do que bem-vinda. Seja generoso.
Não espere um serviço de clube noturno: o show ocorre no porão da American Legion, que é uma organização de apoio aos veteranos do exército americano. Os frequentadores são moradores do bairro, que entram e saem do espaço pequeno, conversam entre eles como velhos conhecidos e dialogam com os músicos que estão no palco gritando lá do balcão do bar. Espere cinquentonas voluptuosas com decotes vertiginosos e calças apertadas, velhinhos de sapato bicolor e aqueles chapéus de missa gospel presentes em todas as mesas. Haverá mais perucas do que cabelo natural à vista no ambiente. Sim, parece que você está num filme. Não, nem tente: eles odeiam que você tire fotos.
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Fachada da American Legion #398 |
A dica para chegar é simples: pegue o metrô, um Uber ou um táxi e dê o endereço (248 W 132nd St). Não pense que está perdido: o local fica no meio de várias casas normalíssimas e não tem a menor cara de bar. Entre pela portinha do porão, embaixo da escada. Um senhor de chapéu vai apertar a sua mão e pedir que assine um livro de presenças. Se for ocupar uma mesa, peça algo para beber. Não há menu (na verdade há, está escrito à mão e não vai lhe ajudar em nada). A garçonete é uma atração turística.
Chegue cedo (no máximo às 18h30), e vá já de estômago cheio. A comida não é a estrela do local, a menos que você goste de frango frito e não tenha problemas com gordura aparente. A cerveja é baratíssima para os padrões de Manhattan, e o jazz é de graça.
Se você quiser ter outra experiência autêntica, jante em horário americano (umas 17h tá bom) num pequeno restaurante etíope a poucas quadras dali, chamado Abissynia (268 W 135th St). Os pratos são basicamente ensopados de carne de carneiro, vaca ou vegetarianos que são servidos sobre um enorme pão fino que vai sendo rasgado para levar a comida à boca. Maravilhoso, bem servido e barato! E você entendeu bem: come-se sem talheres.
Dali, vá para o jazz. Quem não gostar desse fim de domingo, bom sujeito não é.
Veja no mapa onde ficam o Abyssinia e a American Legion: